28 de janeiro de 2010

Nas Nuvens

apenas um pequeno parêntesis: viva o medeia card!

27 de janeiro de 2010

O Meu Sítio das Coisas Selvagens

where my wild things are

mais uma vez, em contra-luz e contra o vento através das árvores do alto alentejo. as minhas árvores preferidas.

21 de janeiro de 2010

Pontapés na Barriga

desenganem-se: não me comoveu a gracinha dos movimentos fetais. mas sim: várias vezes, durante a manhã, tive vontade de dar pontapés na barriga de alguém. de transformar a enfermaria no cenário de um filme do tarantino (ou num western, que já agora fui ontem ver o «my darling clementine» do john ford e gostei muito).
várias cenas de corredor, entre o ridículo e o deprimente. "porque vocês sabem que uma cesareana reduz em 20% a probabilidade de engravidar futuramente, isto para quem teve alguma dificuldade à primeira, é muito importante!", dizia a nossa sensível orientadora - pontapé na barriga! - porque o pai desta futura pouco provável gravidez ali estava, quietinho, encostadinho à parede do corredor, com as malas da recém-mamã do filho que teve alguma dificuldade em conseguir ter.
a saga continuou quando entrámos no quarto de uma quase-mamã em processo de indução de trabalho de parto. nesta altura já éramos oito, quatro belos marmanjos e quatro simpáticas raparigas, olhando para a pobre de perna aberta enquanto a sensível orientadora lhe enfiava os comprimidos para o útero contrair pela boca do corpo acima, e como estava difícil, espremia-lhe a barriga de grávida para empurrar mais fundo, inerte aos gemidos de dor - pontapé na barriga!
declaro que, quando chegar a minha hora, quero parir em casa e sem assistência médica, à moda antiga.

18 de janeiro de 2010

Lugar Lugares

como Herberto Helder,
e ainda a pensar nestes dias da R.

quando penso évora penso mil e uma coisas, e muitas destas podiam ter lugar em muitos outros lugares (e porque não antuérpia ou singapura?). e, mesmo que estas coisas não tivessem tido lugar, foi em évora que passei os dias mais contemplativos dos meus últimos anos. os primeiros dias que por lá passei foram de chuva miudinha. depois o sol apareceu, primeiro entorpecido e depois desavergonhado. nos primeiros dias que passeei pelo jardim, as árvores pareciam-me uma amazónia encantada. não me lembrava de nenhuma pintura onde a luz fosse filtrada de uma forma tão pacificante. nem de um espaço aberto onde me sentisse tão protegida como no parque de merendas, era mesmo como se fosse o meu quarto, sem paredes, com uma gigantesca janela sem vidro. o vinho também tinha outro gosto, e a música o mesmo gosto de sempre, que era tão bom. e por falar em gostos, é claro, havia a sericaia.

17 de janeiro de 2010

Encontros e Despedidas




para a R., que segue para terras de dom quixote (évora, leia-se), ficam uns versos deste poema que é lindo, da canção da maria rita.



Mande notícias
Do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto
É poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda
É poder voltar
Quando quero
Todos os dias
É um vai e vem
A vida se repete
Na estação

14 de janeiro de 2010

Smiley

ao fim de seis anos, voltei a uma aula de dança a sério. e, mesmo com tantas saudades, não consegui imaginar como ia ser bom o reencontro com a sala de espelhos. este post quase merecia um smiley, mas não ficava aqui muito bem.

11 de janeiro de 2010

Alguém vende um Organizador de Vida?

já vos falei da minha ansiedade antecipatória? e de como ela me importuna nas alturas mas impróprias? esta é uma delas. há uma série de mudanças na minha vida que planeio a curto prazo, e agora que chegou a hora de concretizar estes projectos de longa data guardados no cofrezinho dos wishful thinkings porque outra coisa não podiam ser, cada decisão, e mais, cada possibilidade, me deixa uma sensação de desorientação global relativamente ao futuro (mais ou menos como se o destino da humanidade estivesse nas minhas mãos). creio que foi esta angústia que me fez passar o dia de hoje sorumbática por entre a cacimba (esta angústia e o facto de ter passado uma boa fracção da minha folga a esfregar o chão da cozinha, porque a dona filomena desapareceu novamente). no meio de tudo tenho dificuldade em distinguir o imediatamente concretizável do importante. e em gerir o medo de que o importante se adie. não sei se já contei, o importante é inventar o meu castelo de princesa. tenha ele cozinha equipada e grandes janelas, quiçá com vista sobre o rio.

7 de janeiro de 2010

A Mamã e o Papá

esta é a minha primeira reflexão sobre a minha actividade profissional enquanto profissional, no início do ano que supostamente será, a nível profissional, talvez não o mais gratificante mas pelo menos o mais pacífico e apaziguante. dizem.
"um médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe" - ouvi esta frase de abel salazar nas primeiras horas da manhã, o que foi bom porque é uma das minhas preferidas no baralho das grandes máximas sobre a ciência, a arte, a praxis ou o que lhe quiserem chamar. a maioria destas máximas estão cheias de conteúdo mas, pela repetição, perdem o sentido. esta ainda não deixei de compreender.
como cada artista tem a sua escola e desejavelmente o seu registo próprio, cada médico tem o seu estilo. de raciocínio diagnóstico, de apontamentos clínicos, de intervenção terapêutica e de comunicação com o doente. para além da gíria intrínseca a cada especialidade, há o arsenal de expressões pessoais que funcionam como tiques. falando da gíria, em especialidades em que se trabalha com bebés, a ana deixa de ser a ana para passar a ser a mamã isto, a mamã aquilo, e o rui passa a ser o papá para aqui, o papá para ali. este trato é extremamente prático e facilita a vida a quem lida com 25 casais de papás por período de trabalho. é que uma pessoa ao fim de uma manhã continua a parecer fofinha só com esta artimanha. mas dá-me que pensar se não quero continuar a ser tratada pelo nome quando for mamã. quanto às expressões-tique, há-as de todos os tipos. valha-nos quando são só maneiras de dizer simpáticas que se tornam ridículas pelo excesso de uso. outros casos, não raros, há.

6 de janeiro de 2010

Cerro Rico

actualmente, trabalham no cerro rico ("la montaña que come hombres vivos") cerca de 5000 mineiros, 800 dos quais são crianças. a esperança média de vida ronda os 35-40 anos. são importantes causas de morte os acidentes de trabalho e as pneumoconioses. organizam-se em cooperativas, definição falaciosa porque se tratam de pequenas empresas.
a divindade protectora e punidora é o "tio" (assim se chama por derivação do hispânico "dios", uma vez que no idioma quechua não existe a consoante D). este deus tem cara de diabo e a ele se fazem oferendas (tabaco, coca, álcool e por vezes sangue de lama, que se atira para a entrada das minas). para que o tio não castigue os trabalhadores.

4 de janeiro de 2010

Rimac

o peru tem 27.2 milhões de habitantes, 10 milhões dos quais residem em lima, a capital, a maioria das quais em favelas. rimac, a província de lima em que foi construída a favela no morro de san cristóbal, foi no início do século XX sede de epidemias de lepra e tuberculose. a densidade populacional e as condições sanitárias constituem ainda riscos de saúde pública. os serviços de saúde, bem como os colégios, são maioritariamente privados e os recursos públicos são precários. fez-nos pensar sobre a pirâmide das necessidades, os determinantes neurobiológicos da felicidade, o conceito de arquitectura e o semblante dos peruanos - espelhando uma vida de trabalho ou a antropobiologia indígena?

2 de janeiro de 2010

Outras Viagens

são importantes as longas viagens, é importante conhecer o mundo, saber que há cores e cheiros, paisagens e pessoas diferentes dos que preenchem o nosso cenário de todos os dias. e, para mim, poucas sensações há como a de regressar a casa depois de algum tempo. a casa, que entenda-se, encaixa em si muitos elementos. começa na língua que voltamos a ouvir no comboio, que é a minha. depois o rio que acompanha a cidade, que é a minha e a mais bonita do mundo. o jeito do empregado de balcão do café ao pé da estação, a chávena da bica. o sol que brilha depois da chuva, e depois a chuva outra vez. o trânsito na baixa. os azulejos da entrada do meu prédio. o meu quarto, as minhas paredes com fotografias de outras viagens, os livros e os filmes, os móveis e as roupas, e a maravilha de demorar alguns minutos a reconhecer tudo isto, a estranheza de reencontrar as peças que estruturam a identidade.

Lilás, Cores e Flores

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