28 de fevereiro de 2010

Kafka

recordando os meus primeiros dias em lisboa, em que tudo era fernando pessoa e poemas por desbravar. saía de casa com uma máquina fotográfica descartável para gravar os cartazes colados nas caixas de electricidade, por aí. ainda hoje tenho o de um concerto de uma banda chamada kafka, que nunca cheguei a ouvir, colado na parede. nesta altura era-me, obviamente, difícil levar a vida a sério e perseguir objectivos realistas. era fácil apaixonar-me por ideias, embora não estivesse apaixonada por pessoas. quando se cuidam uns projectos, descuidam-se outros. creio que alcancei o objectivo realista que não persegui mas continua a ser-me penoso levar a vida a sério. de cada vez que me levanto para ir trabalhar, paira sobre mim uma dúvida que pode verbalizar-se assim: "não deveria eu ser actriz ou artista plástica?" ou "e se eu ganhasse a vida tocando flauta pelas ruas?". enfim, é mais uma forma de dizer que, neste momento, o que faço não me inspira nem um bocadinho.

21 de fevereiro de 2010

mais uma semana, e a resolução é ir olhando pela janela, que a vista é bem bonita.

16 de fevereiro de 2010

Desabafo, hiperventilando

tenho os ciclos de sono trocados, cada truque que tento para os repor só os baralha ainda mais, acordo de madrugada e não consigo voltar a dormir até o despertador tocar, não posso beber café porque sinto o coração a bater mais forte do que devia e tenho falta de ar, mas durante todo o dia não consigo manter a atenção num objectivo porque não bebi café, não me apetece fazer movimento algum por mais ínfimo que seja, a única coisa que me apetece é ficar na cama a chorar e nem chorar consigo. não reconheço desencadeante algum para tudo isto, só que não posso sair de casa sem chapéu de chuva, quando saio do trabalho é noite e não tive pausa para almoçar. mas deixo-me eu vergar por tão pouco?

8 de fevereiro de 2010

Girl Interrupted

já mencionei que não gosto nada daquilo que estou a fazer agora? começo a temer que seja genético: a minha mãe também vive em lamúrias por não gostar de fazer aquilo que melhor sabe fazer, que é costurar. e aqui estou eu a carpir a minha triste vida de ser médica, que afinal na boca do povo e nos tempos que correm é dos melhores ofícios que se pode ter. acreditando e pregando que, quando voltar ao hospital, vou voltar a sentir a alegria e entusiasmo profissionais que me prometi e cheguei a vislumbrar ao longo destes seis anos de curso.

4 de fevereiro de 2010

Invictus

a grande mensagem de madiba para o capitão da equipa de rugby verde e ouro, os bokkes, é que com inspiração somos capazes de feitos inimagináveis. inspiração é coisa que me tem faltado nos últimos dias. embora vos pareça que sou uma rapariga trabalhadora, em momentos até um pouco esquisita pelo meu empenho nas tarefas, a verdade é que há coisas que não gosto de fazer, e sobretudo de ver fazer, principalmente quando tenho que passar 10 horas do dia num espaço fechado que não foi decorado por mim e é um centro de saúde. o que levou a que hoje, confrontada com um mail pelo fim da mutilação genital feminina, cujas iniciais são MGF, o meu cérebro tenha interpretado as mesmas como medicina geral e familiar, e durante alguns minutos fiquei perplexa sem entender por que queria alguém acabar com esta especialidade tão carenciada, muito embora me vá fazer sofrer nos próximos três meses.

1 de fevereiro de 2010

Agonia, em Poema

(*agonia de enjoo, e não de sofrimento intenso no extremo da vida)

dias de permanente insatisfação.


que sejam de sol até mais tarde.
que haja fontes em todos os jardins públicos da cidade,
flores amargas no caminho para a aldeia,
e sinos tocando na torre das igrejas.
que seja primavera.

que seja primavera depressa,
porque não quero esperar.