23 de agosto de 2012

Telejornal das 8

quando me imagino a ter a minha família, imagino-nos a ver o telejornal das oito. o relato do quotidiano define um sentimento colectivo. a explosão em castro marim, o julgamento de breivik e a violenta queda de ricardo mestre na volta a portugal em bicicleta são temas que nos unem. a manipulação da emissão de informação pela comunicação social pode garantir a estupidez de uma geração. e assim chegamos a este governo e à inevitabilidade da troika. como se sabe começo a questionar abertamente a democracia.
quando me imagino a ter a minha família, imagino os meus filhos a correrem com mochilas coloridas às costas para a escola pública onde hão-de aprender a ser gente. um bairro onde possam andar de bicicleta em vez de estarem presos no facebook. que possam ver as ameixas a crescerem nas árvores e a lenha a arder nas lareiras e saber o que são aldeias com casas de pedra em vez de prédios de vinte andares. que saibam que as grandes potências económicas não são o umbigo do mundo e que os sistemas políticos não são inquestionáveis mesmo que o mundo não se recorde de ter conhecido algum diferente daquele em que vivemos. que não tenham medo de pensar o contrário desde que o saibam fundamentar. que sejam capazes de inventar. que saibam que o necessário é o necessário e que o extraordinário também se pode ter mas nem em todos os tempos e se pode ser feliz com muito pouco.
(e, claro, imagino os meus pais a terem os cuidados de saúde gratuitos para os quais descontaram toda a vida.)

12 de agosto de 2012

Democracia

"a democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros."("it has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.")citando winston churchill, frase que descobri em john le carré a páginas tantas da casa da rússia.

hoje pensei sobre a nossa democracia. justifica-se a aparente ausência de descontentamento colectivo e organizado pelo facto de este governo ter sido eleito pela maioria. ora pois a maioria que o elegeu nada mais deve do que aceitar fleumaticamente a austeridade que é um mal mas necessário. que nunca foi prometido um estado social e talvez nada que se lhe assemelhasse. os inquietos e resmungões serão, como sempre, uma minoria da qual faço parte eu que não elegi este governo. porque a maioria das crianças são ensinadas a ser do clube que ganha o campeonato, já que se pode escolher. o meu clube nunca ganha mas eu orgulho-me de acreditar nele.