28 de julho de 2004

Prelúdio

Primeiro alinhas as canetas de tinta permanente. Uma com tinta negra, outra com tinta azul. A terceira está vazia.
Sentas-te e debruças-te para o caderno de capa preta. O silência arde por toda a casa. Abres o caderno onde sepultaste, há dias, umas quantas palavras. E ao abri-lo caem as imagens sobre a mesa. O caderno volta a ficar branco - o caderno, a nocturna memória do mundo, a vida. Tudo branco como a morte.

Deitas-te, então, ao lado do morto que ainda não és. E dele se liberta um anjo mudo que vem habitar o teu corpo.
 
(Al Berto)