26 de junho de 2007

Gana Tanatológica

é claro que é importante falar sobre isto. para alertar os que não conhecem a pulsão e para os que conhecem não se sentirem sozinhos. nem todos, quando nascem, querem viver apesar das circunstâncias. muitos tornaram-se figuras públicas por isso mesmo - pela exploração do tema ou pela concretização do acto. digo Durkheim e Monroe.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá, T. Dizes que é "importante falar" sobre o suicídio "para...". Não dizes que é importante falar sobre o suicídio "apenas para..." nem “sobretudo para…”. No entanto, vou supor, para efeitos de argumentação, que dizes que é "importante falar" sobre o suicídio "apenas para..." ou “sobretudo para”. De resto, não é uma interpretação descabida que, em "para...", queiras mesmo dizer "apenas para..." ou “sobretudo para”. Não sei se te diriges, neste post, a alguém em particular, que tivesse, por exemplo, comentado contigo "o teu blog está muito teratológico, é mesmo importante falar sobre isso?" ou tivesse mostrado preocupação com a possibilidade de te quereres matar, ou se estás a dirigir-te a um leitor hipotético, gerado na tua cabeça. Mas, vou supor, para efeitos de argumentação, o facto pouco provável de que não te diriges nem a alguém em particular nem a um leitor hipotético, mas estás apenas a perguntar, sem mais: por que razão é importante falar sobre suicídio? Respondes, então, duas coisas: 1) "alertar os que não conhecem a pulsão"; 2) "para os que conhecem não se sentirem sozinhos". Por si, a segunda coisa não me diz que a razão pela qual é importante que as pessoas que têm a pulsão de se suidarem não se sintam sozinhas é evitar que elas se suicidem. Na verdade, poder-se-ia estar a querer dizer isso ou, então, que é importante que as pessoas não se sintam sozinhas, para, por um lado, perceberem que não são uma aberração, e, por outro lado, que a questão "devo ou não suicidar-me" está aberta à discussão racional e há uma história de argumentos a favor e contra o suicídio e uma história do próprio suicídio que pode ajudar uma pessoa, em diálogo com essas histórias, a chegar à conclusão de suicidar-se ou não. Infelizmente, a primeira coisa faz-me pensar que o propósito é mesmo evitar que a pessoa se suicide, pressupondo aí que o suicídio é uma coisa má e deve ser evitado (ou exorcizado por meio, por exemplo, de um exercício literário) ou então não se quereria "alertar os que não conhecem a pulsão" (haverá tais pessoas?), presume-se que para evitar a sua concretização, pelos outros ou pelo próprio (caso algum dia se confronte com ela). Ora, pressupor, sem discussão, que o suicídio é uma coisa má é que é deixar as pessoas sozinhas. Pode-se arranjar facilmente argumentos para mostrar que é uma coisa boa, fracos ou não, não interessa agora, mas seguramente plausíveis. Por exemplo, o clássico: as coisas são boas se não me trazem sofrimento e são más se me trazem sofrimento; na vida, o sofrimento é inevitável; depois da morte não há nada (bem sei: “for in that sleep of death what dreams may come”…); logo, também não há sofrimento e, portanto, o melhor é matar-me. Não sei (bem sei que isto – o que “não sei”, não o argumento anterior –, parece ingénuo mas, acredita, não é, podemos discuti-lo) por que raio não pode uma pessoa, na maior parte dos países, escrever um artigo de jornal intitulado "Argumentos a favor do suicídio" sem incorrer numa pena (na verdade, quanto ao suicídio, o que não falta são proibições irritantes: sim, T, porque há "uma solução sem esforço", mais do que uma até, não há é vontade de a tornar disponível). A ideia de que o suicídio é uma coisa que não se discute, sem preconceitos, mas que é tal que a única atitude correcta em relação a ela é tentar evitá-la é um atestado de menoridade às pessoas. No fundo a ideia que está aqui subjacente é: se uma pessoa se quer suicidar, não é racional, logo não se pode discutir racionalmente com uma pessoa que se quer suicidar; se é racional, não se quer suicidar, logo, se discutir racionalmente, o suicídio defenderá sempre que ele é um erro. Conclusão: não vale a pena discuti-lo mas tentar apenas evitá-lo.
Bem sei que dizes a seguir: “nem todos, quando nascem, querem viver apesar das circunstâncias”, o que parece indicar que, afinal, nas frases acima não querias implicar que o suicídio é uma coisa em relação à qual a única atitude que se pode tomar é procurar evitá-la. A frase, em si, parece infeliz porque me parece que as pessoas, “quando nascem”, não querem nada (desejam coisas, mas querer, não me parece que queiram alguma coisa, menos ainda em relação a estes assuntos – felizes dos pais que, embora com outra intenção, dizem e muito bem aos filhos “o menino não quer nada”). Agora, tirando o “quando nascem”, sem dúvida que nem todas querem viver apesar das circunstâncias. E poderias com ela estar a querer dizer: se isto é um facto, deve haver boas razões para isso, portanto vale a pena discuti-las. Mas se por “razões” estivesses aqui a querer dizer o mesmo que, se dissesses “nem todos não são assassinos em série, isto é um facto, logo tem de haver boas razões para isso”, estarias apenas a referir-te a explicações e estarias, portanto, a discutir a coisa no plano da ciência (provavelmente, da psicologia). Ora, é “importante falar sobre” o suicídio para saber se há ou não razões éticas (práticas, no sentido filosófico do termo, não no sentido corrente) para o suicídio. Infelizmente, parte-se sempre do princípio de que não há boas razões éticas para uma pessoa se suicidar (que saudades dos gregos e dos romanos…). É possível que me respondas que o teu blog é sobretudo expressão da psique e que, por isso, não te preocupas aqui com problemas relativos à pergunta “Devo viver ou suicidar-me?”. No entanto, deixa-me fazer-te duas perguntas: 1) O suicídio é irracional? 2) Se não é irracional, por que razões te quererias matar?

J

4:29 da manhã  

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