25 de maio de 2008

Clairefontaine

procurava, todos os dias, reproduzir a perfeição das coisas num sketch book. entre desenhos e escritos, tentava surpreender a poesia entre um casal de longa data que permanecia em silêncio na mesa de café, nos pombos atropelados desfeitos na estrada, no desânimo dos transeuntes, na sua própria anedonia. como uma personagem de animação japonesa, vestia roupas escuras, cortava o cabelo de uma maneira estranha e não compreendia a hierarquia social nem a expressão "ordem natural das coisas". descobriu Allen Ginsberg, e passou meses a ler o Uivo, porque cada verso era mais do que tudo o que havia conseguido registar do mundo até então. e, não sabe bem quando, desistiu de registar o mundo. no entanto, os pombos continuaram a ser atropelados e desfeitos. talvez ainda soubesse escrevê-los.