20 de abril de 2009

Tequila y Sexo

nestes dias a minha vida (que até me esforço por tornar o mais parecida possível com o marché aux puces ou um supermercado chinês) parece-me a coisa mais desinteressante. passar um dia que adivinho lá fora radiante de sol dentro de um gabinete de persianas fechadas, a ver crianças a berrar e adultos que têm a sorte de as ver crescer, faz-me pensar que esta ambição de ter uma carreira profissional satisfatória é quase perversa. primeiro, pela contingência social de que já não há carreiras médicas. depois, porque mesmo não havendo carreiras médicas, a minha não-carreira não me deixará provavelmente tempo disponível para ver uma criança crescer. é talvez uma visão pessimista, quem me lê bem sabe a tendência que tenho para exagerar nas desgraças (o que dá uma certa graça acrescida às pequenas coisas boas em que a maioria das pessoas não repara). desinquieta-me um pouco do desinteresse da minha vida (e desta inquietação de não estar a viajar pela índia ou pela américa do sul) pensar a medicina como humanismo.