Amordaçada
« Foi então que se iniciou nos amores solitários, com a estranha sensação de estar a descobrir algo que os seus instintos sabiam desde sempre, primeiro na cama, com a respiração amordaçada para não se trair no quarto partilhado com meia dúzia de primas e depois com as duas mãos, deitada descuidadamente no chão da casa de banho, com o cabelo solto e a fumar os seus primeiros cigarros de carroceiro. Sempre o fez com algumas dúvidas na consciêcia que só conseguiu apagar depois de casada e sempre num completo segredo, ao passo que as primas alardeavam entre elas não só a quantidade de vezes dutante o dia, mas também a forma e duração dos seus orgasmos. Não obstante, apesar do feitiço daqueles ritos iniciais, continuou a arrastar a crença de que a perda da virgindade era um sacrifício sangrento. »
Gabriel García Márquez, in O Amor em Tempos de Cólera
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