10 de fevereiro de 2007

Excesso


segredas-me qualquer coisa e ensurdeço. penso no que até aqui nos trouxe e nas coisas todas (se as discriminasse, banalizaria o registo) que já trocámos. penso em escrever essa surdez sem deixar entrever os sítios do meu corpo onde as tuas mãos passam quando as minhas pupilas se dilatam. ensaio psicanalítico sobre o que se perde ao ser analisado. temo tanto as permanências como as ausências prolongadas. temo tanto o tédio como a hiperactividade quotidiana. temo tanto o esquecimento como a recordação repetitiva que sucede as rupturas. temo os projectos olímpicos e as intenções liquefeitas. «não se pode ser excessivo no amor», pensaria se ousasse pensar em amor. descreveria, para te encontrar, enquadramentos realistas, surrealistas ou, mais raramente, ultra-românticos, conforme o que o último sonho da noite me ditasse. se ousasse. a manhã tem que ter sorrisos, sol a entrar pela janela, café quente no colo e qualquer coisa para a qual estamos atrasados. numa corrente realista, é o registo possível. saudades dos fins-de-dia dos dias-que-acabavam-tarde. de te convencer de que não quero ser convencida. de fingir desinteresse e, no entanto, morder o lábio entre duas ideias. presumindo nesse alheamento um adiamento, esse adiamento presume que as concretizações fáceis contaminam o erotismo, guerrilheiro. suspiro que, não sendo qualquer regime ou sistema perfeito, o que assumimos como ideal é o que supomos como sendo o melhor. isto, aparentemente, a despropósito.