26 de dezembro de 2006

Châtelet

(isto não passa de um apontamento inócuo)
omitindo da minha retrospectiva o frenesim histérico que pauta as adolescências, não há muito de emoção manifesta nos meus dias. com alguma pena minha, em certas circunstâncias em que desejaria reagir no instante, o que evitaria aqueles arquejos involuntários de sobrancelhas que dominam a minha mímica facial quando me apercebo de uma realidade que me constrange.
é claro que prefiro fitar insistentemente o apelido "Châtelet" na lombada de um livro enquanto recebo a notícia de uma morte e mais tarde arquejar compulsivamente as sobrancelhas, em vez de chorar desalmadamente no funeral de alguém cuja fisionomia não recordo.
e, não obstante a mágoa que tal desperta, prefiro aparentar frigidez, desapego e apatia quando me dizes que beijaste outra mulher, mesmo que vá passar meses em prantos e com repulsa pelos sítios onde estive contigo e por qualquer tipo de comida. mesmo que a minha identidade venha a ficar tão em cacos que tenha que procurar outra.
enfim, tudo isto já se passou e, de facto, a identidade que acabou por substituir a desgraçada não pretende repetir tal acrobacia. sem qualquer fé na humanidade ou nos homens, fico triste de cada vez que algum trai a sua mulher ou de alguma forma a faz sofrer. e isto passa-se nas músicas, nos livros e nas casas.