12 de outubro de 2009

Taquipsiquia

como já disse estou assim para o exausto, neste estado de actividade psíquica paroxística, irregularmente irregular diria (como as chuvas tropicais!), que me assalta nos períodos que antecedem os grandes momentos, já sei como é, e é afinal nestas alturas que somos capazes dos feitos mais imprevisíveis e por isso surpreendentes e às vezes das decisões mais drásticas. conservo-me portanto o direito de fazer coisas excessivas que me confortem um pouco o intelecto, como empanturrar-me em chocolate sob todas as suas apresentações: em tablete, em gelado, em bolo, em cobertura. de qualquer das formas, da próxima vez que vestir um bikini vou estar no hemisfério sul, onde as pessoas vivem de cabeça para baixo.
o fim da jornada parece distante e, ao mesmo tempo, desesperantemente próximo. aliás, arriscaria que muito do que se passa por estes dias nos nossos* cérebros, corações, hipófises, circuitos de Papez, blabla, são acontecimentos diametralmente opostos que brigam para vencer sobre o outro. como as pulsões de vida e as forças tanatológicas, numa teoria qualquer (muito gira) freudiana. se há dias em que me invade a fadiga, outros há que me devolvem aquele sentimento de invulnerabilidade absoluta que caracteriza a adolescência e os estados maníacos.
hoje pensei, a propósito de um projecto ambicioso, que a partir de certa idade às vezes nos falta o ímpeto (a expressão certa, que agora não consigo traduzir adequadamente, é a anglo-saxónica
guts) para assumir a revolta, que numa idade mais precoce nos sobra e tantas angústias provoca aos crescidos, e tantos problemas a nós nos pode trazer. brigo (também) diariamente com a crítica, com a noção do ridículo, com a náusea relativamente à inutilidade de certas aprendizagens, mas já me falta a garra para dizer convictamente esse "quero lá saber". e não sei.

* no meu e no dos que comigo partilham esta condição pré-harrisoniana.