Radio killed the video star?
A emissão de AM-FM, o terceiro álbum de originais dos alcobacenses The Gift, entrou no ar às 21 horas do dia 16 de Novembro de 2004, na Antena 3 - um “Especial The Gift” que contou com a presença da banda em estúdio. Voaram até Londres (clube Cargo, 21 de Novembro), Nova Iorque (B.B. King Blues Club, dia 23), Los Angeles (a 25) e cá voltaram. Após o lançamento do trabalho, a 29 de Novembro, The Gift estiveram no grande auditório do Cine-Teatro de Alcobaça nos dias 3 e 4 de Dezembro, antes de partirem de novo para a metrópole – Lisboa (no São Luiz, dia 6) e Porto (Rivoli, dia 8).
AM-FM
«Chama-se AM-FM e é o disco mais espontâneo e transparente que alguma vez fizemos. O disco está cada vez mais focado em detalhes rítmicos e interpretações magníficas. Hoje que terminei o disco e o oiço no metro nos meus head-phones sinto que vamos chegar às pessoas que choram por refrões, dançam por refrões, se lamentam nos refrões, se alimentam nos refrões…», escreve Nuno Gonçalves no diário online. Quem não entende esta história dos refrões, que veja aquele anúncio que está sempre a passar na TV, aquele em que a vocalista desaparece a meio do refrão de “Driving You Slow” (o primeiro single) e qualquer coisa fica suspensa.
Analisado como um todo, este trabalho – sob a forma de duplo álbum - não traz nada de absolutamente novo. São perceptíveis a evolução e reinvenção, mas não há divergência conceptual significativa em relação ao anterior, Film (2001). Dissociando as partes do todo, AM-FM poderá ser classificado como ambíguo – ou que se completa a si próprio? – mantendo no entanto a coerência interna. Podia chamar-se In-Out: em AM, a introspecção (por vezes nostálgica, por vezes revivalista) e em FM uma abordagem voltada para o exterior. Fácil de entender?
Keep breathing and join the carrousel
O concerto, esse, é uma prova de resistência à capacidade do público para se manter imóvel: o difícil é ter os pés no chão. Perdidos na plateia ou no balcão, não faltaram pés a balançar timidamente ou cabeças a acompanhar os ritmos. Mas só no camarote um pequeno grupo ousou fazer justiça à energia esfuziante de “Driving You Slow”. O alinhamento incluiu também “I Am Am”, “Wallpaper”, “Wake Up”, “11:33”, “Cube”, “Music”, “An Answer”, “1977”, “Elisa”, “Bonita”, “Guess Why”, “Red Light” e, para relembrar os tempos de Film, “Front Of”, “Question Of Love” e “So Free (3 Acts)”.E porque um espectáculo não vive só da música, há que aplaudir a cenografia futurista (o futurismo de Marinetti, ou a (re)descoberta da beleza da mecanização) manifesta nas projecções electrizadas que geram uma atmosfera digital (e não se trata de uma referência ao curioso Digital Atmosphere), uma ambiência utópica. Dizia Sónia Tavares que, dez anos depois de terem começado nestas andanças, ainda se sentem mais seguros por detrás de uma cortina. Híbrido de fragilidade emocional e potencialidade artística, a persona da vocalista em palco é um paradoxo entre o (inesperado?) vestido de folhos e a voz imponente e decisiva.
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