17 de dezembro de 2006

Leonor

o que me agrada neste livro (Elegia Para Um Caixão Vazio, do Baptista-Bastos) é que, embora releia sempre as mesmas partes, por mim seleccionadas e devidamente assinalada com a (irritante para alguns) dobra no canto da página e por vezes sublinhadas por lápis de carvão, os parágrafos me fazem sempre lembrar uma ou outra coisa. como este.
«Mas amámo-nos de forma ausente, nessa noite; pressionados por miríades de pulsões externas a nós mesmos, os corpos reclamando o abandono da sua própria natureza e os pensamentos a resistir a essa obstinada entrega. Dominava-me um nublado receio, a serenidade apaziguadora não surgia, os nervos tensos, o coração aflante. Leonor fingia dormir: eu sabia-a desperta, de pálpebras cerradas, a respiração pausada. Nada nos impelia a conversar na cama. Alguma coisa nos tornava reclusos dos nossos pensamentos, e temporariamente afastados um do outro. Saí, sem rumor, e, já madrugada, entrei no Ritz Clube, sentei-me à mesa de conhecidos, bebi demasiado, fui dormir com uma prostituta, num quarto com rebaixo, mesmo junto à esquadra da Praça da Alegria. Acordaram-me com socos na porta, muito depois do meio-dia; estava só. (...)»

1 Comments:

Blogger Cláudia Faro Santos said...

página 87 na quinta edição de outubro de 2001: a minha está dobrada ao canto e sublinhada nesse mesmo parágrafo...curioso.

8:18 da tarde  

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