4 de fevereiro de 2006

Gaiola

ousavam ensaiar um grito de revolta. um grito de revolta não tem que enclausurar uma ideia - abre a gaiola da contra-ideia. ela é um pássaro verde, de bico aguçado e olhos líquidos. eu também podia ser um pássaro verde assim. perscruto os trajectos que me (nos) levam ao absurdo, e interpelo-os: «por que razão nos trazem de volta?» - e nunca serei capaz de fazer entender o que vejo pelas janelas, porque as linhas da minha mão são demasiado turbulentas (e uma linha em lugar algum da literatura foi turbulenta. só na minha mão.)

em menos de uma linha rasga-se um épico.

é sempre assim. um homem ama uma mulher durante algum tempo e depois solta-o como a um pássaro verde (ou trapo sujo). amar é um acto que se diz com a língua e se escreve com os dedos. desdiz-se no silêncio que depois se instala quando pergunto «ainda gostas de mim
(25 de Janeiro de 2006)