19 de março de 2006

Cemitério

«- Sabes, minha filha? São uns porcos. Essa história das mulheres honestas foram eles que inventaram porque é cómodo ter em casa uma mulher de quem não se gosta. De quem eles gostam é das outras, das levianas, e tu hás-de ser leviana porque antes isso do que ser uma mulher de quem não se gosta.»
Natália Correia, in A Madona
os livros vão-se amontoando em cima da mesa de cabeceira, porque em determinado momento decidi começar a ler um mas passados alguns dias me apaixonei por outro. (é uma espécie de cemitério de raparigas – a primeira, a das ancas magnificamente curvilíneas, depois a outra cujo busto era uma ode à contemplação, entretanto aquela com voz de rouxinol mas que trocava as sílabas dos monossílabos, por momentos os olhos transparentes que de manhã se transformavam em esferas de vidro baço) alguns conseguem transitar para o tapete, por terem suscitado em mim esse amor cujo modo aniquila o tempo e o lugar e deixa marcas no fundo das costas. (- «não percebo por que deitam tanta terra em cima dos mortos.») por alguma razão, não consigo aquietar-me na continuidade de uma narrativa.