17 de março de 2006

Vento e Movimentos

quis a imprevisibilidade da forma que acabassem os quatro à roda de uma mesa, confessando em tom despreocupado, desventuras, angústias e devaneios:

- "e o erotismo, senhores, e o erotismo?"

foi então que o som de tachos e panelas se sobrepôs às vozes e deixei de ouvir o que diziam. mesmo a tempo do veredicto:

- "quanto a mim, já não acredito que as histórias de amor sejam possíveis. acredito no vento e nos movimentos, mas as folhas e os papéis acabam por parar ou continuam a mover-se sempre à mesma velocidade, pela lei da inércia. e é nesta lucidez nihilista que quero que as minhas mãos procurem as outras. porque as ligações colapsam quando atingem o ponto de tensão máxima." - rematou, sobre a mesa iluminada com sombras de objectos inesperados.

[e ainda, entre a lâmina de uma colher e o bordo inofensivo de uma chávena, a dúvida indignada de um texto teu que não cheguei a ver, R..]