4 de maio de 2006

Herbário

enquanto os meninos jogam ao berlinde à beira da estrada ou em becos sem saída, protegidos pelo muro, as meninas em flor saltibanqueiam em campos de ensimesmamento. escrevem diários secretos que trancam à chave e guardam na gaveta, por entre raminhos de alfazema. coleccionam asas de insecto e folhas de árvore. prendem as pétalas entre o polegar e o indicador e, com jeitinho, arrancam-nas - uma por uma, até ficar uma única lágrima branca pendente de um olhinho amarelo que nela adivinha a desdita.
há dias de amores impossíveis e outros de paixões inadmissíveis. um coração de vidro também estremece, e faz tanto barulho quando cai no chão. recolho os cacos e embrulho-nos num quadradinho de tecido cor de ameixa preta. aperto-o com a palma da mão.

1 Comments:

Blogger Manuel Neves said...

Hoje encontrei dois berlindes perdidos no chão (verdade, verdadinha)e dei-os ao meu irmão. O puto, com uma falta de delicadeza enorme, nem agradeceu e limitou-se a pô-los na garrafa de whsiky cheia dessas bolinhas de vidro. Duvido que já me tenha que preocupar com os "dias de amores impossíveis e (...) paixões inadmissíveis" dele.
Entretanto, fomos jogar à bola à beira da estrada.
*

1:37 da tarde  

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