19 de maio de 2009

Thel

Dead Man / 1995
Jim Jarmusch

a cinemateca tem sido o meu espaço único de entretenimento nas últimas semanas. tenho pensado que os filmes são como tabletes de chocolate, potenciais fontes de prazer imediato, os primeiros com a vantagem sobre as segundas de não engordar, e ambos estímulos fundamentais para a minha resignação em persistir neste mundo apesar das coisas más que são tantas. hoje insisti em ir à sessão das três e meia, hora um pouco incómoda para quem não seja aposentado, desempregado ou criança em idade pré-escolar. obviamente (e pela primeira vez na minha carreira brilhante de obsessiva-compulsiva, devo acrescentar), cheguei uns minutos atrasada, e como não há aquela publicidade e os trailers das próximas estreias como nas salas comerciais, entrei já a meio do pré-genérico. ao primeiro passo, achei que ia pôr o pé em falso e rebolar por ali abaixo, pelo que tacteei cuidadosamente o degrau até ao fim, e nem uma réstia de luz, e percebi então que não conseguia ver que lugares estavam vazio, achei que me ia sentar acidentalmente ao colo de alguém, e então apalpei convictamente o braço da primeira cadeira e lá a ocupei que estava mesmo vazia.
quis ver este filme sobretudo por causa do realizador, o mesmo do coffee & cigarettes (que deu o nome a este blog, e logo daí se vê como foi um marco na minha adolescência). também aprecio bastante o johnny depp, mas não tanto que me faça insistir em ir a uma sessão das três e meia. não me desiludi, pois então. é curioso que qualquer filme em que o dito johnny entre parece feito à sua medida, o papel para o actor e não o actor para o papel. igualmente curioso ver de novo o iggy pop no grande ecrã, ainda para mais sendo uma "sally", e o alfred molina, feito missionário vendendo tabaco.
da tendência alucinatória de jarmusch conhecia já a peça central do night on earth (se me não falha a memória), mas este são 117 minutos de acontecimentos improváveis em cenários esquisitos (de uma esquisitice que me fez lembrar lynch). guardo a vertiginosa thel, que fazia flores de papel.

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