30 de março de 2006

Antropofagia

« - Inteligência... Espírito... Progresso... A syvuda da curvatura do espaço humano evoluindo para a descida. O retorno ao abominável. Evolução e involução. Quando cremos subir, descemos. E vice-versa. Percebe-se isto ao atingirmos o estado de clarividência que já é o delírio da febre de entender. Mas, ai de nós... Nesse ponto alcançamos o vórtice da ascensão, o cume de onde nos debruçamos sobre o abismo e o nosso fulgor e o da estrela que vai cair. O espírito obscurece e o ignóbil ilumina-se. É o deslumbramento da nossa miséria. E assim, o espírito corre para a antropofagia tal como esta corre para o espírito. Não entretenho abstracções. Sei por experiência própria que o último escalão da inteligência - falo da inteligência como de uma voluntária actividade poética que aspira a apanhar em falso a ironia de nascermos - é a pancada do irracional. Um alçapão que se abre sobre o canibalismo.»
Natália Correia, in A Madona