22 de junho de 2006

Demência

(às miúdas que são FLORES como FUNIS)
depois envelheces.
já não te reconheces (na agilidade com que te desprendes das ocorrências).
alguém te deixou em cima da mesa de cabeceira um copo com água e tu não reparas no que essa presença encerra - alguém demorou em ti o gesto.
um vento passeia-te no ouvido e não consegues discernir as palavras, embora a voz te faça lembrar uma rua que desce, um calor estonteante e pétalas lilases caídas no chão.
cabe-te uma década na mão - e, entretanto, foram só uns meses que passaram.
e todos os objectos têm o mesmo nome.

12 de junho de 2006

Telegrama

(a um homem morto)

o que me intriga não é em que nicho te conservou a memória, mas sim em que ermida te trancou a amnésia.
assim é: já não te recordo com água nos olhos - e tempos houve de cascatas sonoras.