28 de novembro de 2011

O Direito à Preguiça

depois de anos e anos (não tantos que tudo é relativo, e que bem entendido ainda hão-de continuar) de hiperactividade mental, de insónias alternadamente iniciais e intermédias e terminais, ansiedades ruminativas com pormenores minúsculos que me ocupam os dias, um bicho de sete cabeças à volta das tarefas mais simples (a par de umas quantas saídas airosas em tarefas menos simples e potencialmente problemáticas), nenhuma decisão fulcral até à data adiada e outras quantas a que me recuso dar a devida importância e vou repetidamente adiando, depois de anos e anos faz-me sentido o título de Paul Lafargue (que não li), esse direito agora inadiável que me concedo gozar por uns dias.
é um pensamento recorrente que tenho ultimamente, por que não posso ficar na cama hoje e não ir às aulas? havia mais coisas é claro. o almoço na cantina universitária, a revista e o que fizemos dela e como mais uma vez não sabemos se desapareceu para sempre ou se vai renascer, as faixas pintadas no palco da sala de alunos, tudo cada vez mais errado mas sol ao fim da tarde no estádio, o loucos e sonhadores, tão de repente que passou tudo e agora já não posso ficar na cama e não ir às aulas.
talvez devesse ter escolhido outra ocupação, uma em que tivesse tempo para me espreguiçar e ir escrevendo, em que pudesse exercer o direito à preguiça em mais do que 20 dias úteis por ano, em que tivesse fins-de-semana e noites, não sei. é outro pensamento recorrente que tenho ultimamente.