26 de janeiro de 2009
na história (com agá grande) não se registam de facto muitos casos de genialidade sem sintomas psiquiátricos acompanhantes. isto deve tranquilizar, nas horas más, os neuróticos, os deprimidos, os que não sabem conduzir-se a si mesmos. o que é a genialidade nos dias que correm? já não haverá lugar para obras-primas, por isso será uma coisa mais abstracta, tem que ver com insights, soluções inesperadas no desespero, maneiras esquisitas de ler o mundo e de agir perante ele, capacidades adaptativas. e o meu homem azul saindo de dentro da lâmpada oferencendo desejos inesgotáveis que não sabe se pode concretizar.
24 de janeiro de 2009
Tango
«
- ...afinal, quem sou eu para julgar os outros? tenho apenas uma antipatia inata pelos censores e pelos puritanos, embora sejam os redentores que mais me incomodam.
- e porque não? talvez tenhas razão. a prostituição, a vigarice e a delinquência, nada são comparadas com certos exemplos da classe política.
»
Hugo Pratt, in Tango
20 de janeiro de 2009
Chuva Chovendo
(Águas de Março)
alguns versos, o tal lugar para a poesia
é pau, é pedra, é o fim do caminho
é o vento ventando, é o fim da ladeira
é a luz da manha, é o tijolo chegando
é o projeto da casa, é o corpo na cama
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama
é um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
é um resto de mato na luz da manhã
é um espinho na mão, é um corte no pé
alguns versos, o tal lugar para a poesia
é pau, é pedra, é o fim do caminho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço
é o mistério profundo, é o queira ou não queiraé o vento ventando, é o fim da ladeira
é a chuva chovendo, é conversa ribeira
das águas de março, é o fim da canseirapassarinho na mão, pedra de atiradeira
é uma ave no céu, é uma ave no chão
é um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
é o fundo do poço, é o fim do caminho
no rosto um desgosto, é um pouco sozinho
é um peixe, é um gesto, é uma prata brilhandoé a luz da manha, é o tijolo chegando
é o projeto da casa, é o corpo na cama
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama
é um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
é um resto de mato na luz da manhã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
é uma cobra, é um pau, é joão, é joséé um espinho na mão, é um corte no pé
19 de janeiro de 2009
185
amanhã, em vez de apanhar o 185 via damaia/alfragide, ponho-me a caminho de um inferno bélico qualquer onde se possa morrer a salvar alguém. certamente isso realizaria uma parte de mim e far-me-ia ignorar uma outra que me incomoda, porque alguma coisa está um milímetro fora do sítio ou porque há pó na prateleira da estante. e haveria ainda assim lugar para a poesia. afinal, este mundo foi feito para ser doce.
15 de janeiro de 2009
Strike
na sequência de um ataque aéreo, said siyam, um dos principais líderes do hamas, é morto. edifício da ONU em chamas após ter sido atingido por explosivos israelitas, tendo sido destruídas reservas de comida e medicamentos. olmert, em telavive, lamenta o ataque, justificando que a base era um ponto de partida de ataques palestinianos. o número de mortos ultrapassou ontem os 1000, estimando-se que um terço sejam crianças.
We have been receiving a very high number of patients with a strange burn, completely different to the burns we are used to managing, very deep burns with a very offensive, chemical odour coming from the wound site.
The wound keeps smoking for a long time. When we try to wash it with saline and water, some reaction happens, the skin bubbles and the patient complains of extreme pain.
In some cases there is then severe destruction of the tissue and we have had to amputate whole limbs.
The wound keeps smoking for a long time. When we try to wash it with saline and water, some reaction happens, the skin bubbles and the patient complains of extreme pain.
In some cases there is then severe destruction of the tissue and we have had to amputate whole limbs.
Dr. Nasez Abu Shaaban, em Gaza
13 de janeiro de 2009
Rafah
a ofensiva militar prossegue. multiplicam-se os apelos diplomáticos ao cessar-fogo e ao alargamento da janela de permissão da entrada de ajuda humanitária. partidos árabes fora das eleições israelitas. a praia está repleta de pára-quedistas. um irmão acolhe o seu irmão e os seus dez filhos. paulatinamente, a fome consome os sobreviventes. que restará da terra prometida depois do inferno? e que teria a pequena anne frank a dizer sobre o assunto?
Lendo o Plano Dagan não é de descartar que em alguma fase deste processo Israel abra uma "válvula de escape" em Gaza para que haja uma fuga em massa – limpeza étnica é a expressão correcta –, eventualmente para a Jordânia, atendendo ao comportamento actual do Egipto.
12 de janeiro de 2009
917
até ao momento 917 mortos palestinianos e 4100 feridos, segundo o mais recente balanço fornecido hoje pelo chefe dos serviços de emergência médica de gaza. em tempo de paixões e desassossegos, queria estar lá, a socorrer corpos despedaçados, para me esquecer deste nada que me enche o peito apesar do conforto de um tecto que não desabará enquanto durmo.
11 de janeiro de 2009
Rockets
em gaza, continua o confronto israelo-palestiniano. 854 palestinianos mortos, incluindo 270 crianças. 13 mortos israelitas. o conflito estende-se para as regiões mais densamente povoadas. por cá, há neve dos dedos dos pés até à ponta dos cabelos. a recessão económica é admitida publicamente na TV. o meu horóscopo anuncia apesar disto uma carta favorável para a próxima semana.
7 de janeiro de 2009
Couldn't care less
às vezes gosto de ficar assim, a olhar por uma porta ou por uma janela aberta, a observar (sem tentar compreender) as pessoas a atravessar a estrada em passo decidido, os carros a pararem no semáforo e a arrancarem uns minutos depois, a tarde a ficar noite e as luzes a acenderem-se. sem pensar "estou atrasada" ou "ele está à minha espera" ou "já devia ter mudado de página". às vezes gosto de deixar tarefas pendentes. às vezes gosto de não fazer perguntas. às vezes gosto de não querer saber.
6 de janeiro de 2009
Décadanse
tenho saudades do verão. de sair para o café, à tardinha, sem casaco, de cabelo molhado. daquele verão, em que andei despreocupada dos meus caracóis e feliz nos meus chinelos, imaginando-me a dançar descalça no ar, enquanto a banda, inesperada, tocava na praça.
5 de janeiro de 2009
4 de janeiro de 2009
2 de janeiro de 2009
Edith Piaf
je ne veux pas travailler
je ne veux pas déjeuner
je veux seulement l'oublier
et puis je fume