Telejornal das 8
quando me imagino a ter a minha família, imagino-nos a ver o telejornal das oito. o relato do quotidiano define um sentimento colectivo. a explosão em castro marim, o julgamento de breivik e a violenta queda de ricardo mestre na volta a portugal em bicicleta são temas que nos unem. a manipulação da emissão de informação pela comunicação social pode garantir a estupidez de uma geração. e assim chegamos a este governo e à inevitabilidade da troika. como se sabe começo a questionar abertamente a democracia.
quando me imagino a ter a minha família, imagino os meus filhos a correrem com mochilas coloridas às costas para a escola pública onde hão-de aprender a ser gente. um bairro onde possam andar de bicicleta em vez de estarem presos no facebook. que possam ver as ameixas a crescerem nas árvores e a lenha a arder nas lareiras e saber o que são aldeias com casas de pedra em vez de prédios de vinte andares. que saibam que as grandes potências económicas não são o umbigo do mundo e que os sistemas políticos não são inquestionáveis mesmo que o mundo não se recorde de ter conhecido algum diferente daquele em que vivemos. que não tenham medo de pensar o contrário desde que o saibam fundamentar. que sejam capazes de inventar. que saibam que o necessário é o necessário e que o extraordinário também se pode ter mas nem em todos os tempos e se pode ser feliz com muito pouco.
(e, claro, imagino os meus pais a terem os cuidados de saúde gratuitos para os quais descontaram toda a vida.)