28 de dezembro de 2008

Sacré-Coeur

finda a força dos intelectuais que procuram a razão nos ideais e a justiça no que deles podem realizar, os outros erguem monumentos sumptuosos em locais bem visíveis da cidade, para mostrar que não foi derrubado o império secular da submissão. contornando uma esquina num outro quarteirão qualquer, ouvimos os cânticos muçulmanos saindo de uma mesquita. e, nos jardins e nos parques e no cimo do boulevard, a arquitectura e as estátuas impõem a antiguidade e louvam o olimpo.

19 de dezembro de 2008

Maurice Garin

acho que ainda me aguento no selim de uma bicicleta. já não tenho medo de cair. meus joelhos esfolaram-se em bom tempo. o que sei e o que fui sarou. quero percorrer a cidade em inconsequência, no meio das buzinas enfurecidas, porque não tenho pressa de chegar onde nem sei que quero. percorre-me, enfurece-me e no fim ampara-me, como se fosse eu teu país ansiado. veste a camisola amarela.

O Velho e a Flor

voando e fazendo amor.

4 de dezembro de 2008

Quem

a quem me lembra como a estranheza do mundo, quando constatada, nos pode fazer sentir soterrados, pela brevidade e pequenez do que somos-estamos-passamos. a quem me faz tentar escrever isto para que o outro entenda e se sinta também dormente debaixo desta árvore agitada pelo outono, e saber então, ora que escrevo, que as palavras não se esgotaram no quotidiano apático. por quem adivinharei primaveras na geada, por quem acreditarei no doce depois do sórdido.