Kafka
recordando os meus primeiros dias em lisboa, em que tudo era fernando pessoa e poemas por desbravar. saía de casa com uma máquina fotográfica descartável para gravar os cartazes colados nas caixas de electricidade, por aí. ainda hoje tenho o de um concerto de uma banda chamada kafka, que nunca cheguei a ouvir, colado na parede. nesta altura era-me, obviamente, difícil levar a vida a sério e perseguir objectivos realistas. era fácil apaixonar-me por ideias, embora não estivesse apaixonada por pessoas. quando se cuidam uns projectos, descuidam-se outros. creio que alcancei o objectivo realista que não persegui mas continua a ser-me penoso levar a vida a sério. de cada vez que me levanto para ir trabalhar, paira sobre mim uma dúvida que pode verbalizar-se assim: "não deveria eu ser actriz ou artista plástica?" ou "e se eu ganhasse a vida tocando flauta pelas ruas?". enfim, é mais uma forma de dizer que, neste momento, o que faço não me inspira nem um bocadinho.