27 de maio de 2009

Rambola

Lo Sceicco Bianco / 1952
Federico Fellini

findos os dias de luto voltamos aos filmes, agora ao fim da tarde e em boa companhia. pergunto-me que mal tem ser uma boneca apaixonada suicidária, fugir do marido e do hotel procurando a verdadeira vida, que é o sonho, na rua vinte e quatro de maio, que fica a dez minutos a pé. e quantas vezes o resto do mundo não nos passa por cima como uma fanfarra de trompetistas a correr pelo largo. itália parece-me sempre um país de maravilhas.

25 de maio de 2009

Lisboa Out Jazz

5 meses 5 jardins

http://www.myspace.com/lisboaoutjazz

(um link que a R. me enviou)


e dizem que amanhã vai estar sol, e eu acredito.

21 de maio de 2009

Ler Devagar

conheci esta livraria ainda no bairro alto, numa estreita perpendicular à rua da rosa. visitei-a primeiro a propósito de uma conferência em que um dos intervenientes era o professor de psiquiatria, dissertando sobre alienações (coisa curiosa, pensámos à partida, e não nos desenganámos). o outro interveniente era um antropólogo com um defeito da fala irritante, e a moderadora uma conhecida senhora anti-regime, não interessa as voltas que deu, que outros há que foram parar bem mais longe. o público era constituído maioritariamente por homens de meia idade de barbas grisalhas, e bem se adivinha o que isto significa. hoje fui até à nova ler devagar, agora na lx factory, uma antiga fábrica em alcântara, recuperada para cafés e outros espaços comerciais (capitalizada, pode ler-se, se tal se pode dizer de um espaço que nunca outra coisa foi senão capital), com muito estilo ressalve-se. a livraria fica na antiga tipografia, e podemos mesmo passear pela maquinaria. no tecto do átrio está pendurado um bicho da joana vasconcelos, muito engraçado por sinal. cheira a tinta, cheira a papel, cheira a oficina. tem sofás, mesinhas e cinzeiros por todo o lado. uma caixa de arquivo com autocolantes com trocadilhos como "bass me the salt" ou "smells like bit spirit". e, claro, livros que nunca mais acabam.

19 de maio de 2009

Thel

Dead Man / 1995
Jim Jarmusch

a cinemateca tem sido o meu espaço único de entretenimento nas últimas semanas. tenho pensado que os filmes são como tabletes de chocolate, potenciais fontes de prazer imediato, os primeiros com a vantagem sobre as segundas de não engordar, e ambos estímulos fundamentais para a minha resignação em persistir neste mundo apesar das coisas más que são tantas. hoje insisti em ir à sessão das três e meia, hora um pouco incómoda para quem não seja aposentado, desempregado ou criança em idade pré-escolar. obviamente (e pela primeira vez na minha carreira brilhante de obsessiva-compulsiva, devo acrescentar), cheguei uns minutos atrasada, e como não há aquela publicidade e os trailers das próximas estreias como nas salas comerciais, entrei já a meio do pré-genérico. ao primeiro passo, achei que ia pôr o pé em falso e rebolar por ali abaixo, pelo que tacteei cuidadosamente o degrau até ao fim, e nem uma réstia de luz, e percebi então que não conseguia ver que lugares estavam vazio, achei que me ia sentar acidentalmente ao colo de alguém, e então apalpei convictamente o braço da primeira cadeira e lá a ocupei que estava mesmo vazia.
quis ver este filme sobretudo por causa do realizador, o mesmo do coffee & cigarettes (que deu o nome a este blog, e logo daí se vê como foi um marco na minha adolescência). também aprecio bastante o johnny depp, mas não tanto que me faça insistir em ir a uma sessão das três e meia. não me desiludi, pois então. é curioso que qualquer filme em que o dito johnny entre parece feito à sua medida, o papel para o actor e não o actor para o papel. igualmente curioso ver de novo o iggy pop no grande ecrã, ainda para mais sendo uma "sally", e o alfred molina, feito missionário vendendo tabaco.
da tendência alucinatória de jarmusch conhecia já a peça central do night on earth (se me não falha a memória), mas este são 117 minutos de acontecimentos improváveis em cenários esquisitos (de uma esquisitice que me fez lembrar lynch). guardo a vertiginosa thel, que fazia flores de papel.

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17 de maio de 2009

Secret

he desires love,
not some perfect affair,
in hotels of steel and glass,
just to cross on the stairs,
but he can still see,
all the angels in time,
as his dreams of ectasy,
turned to nightmares of crime.

Ian Curtis (1978)

14 de maio de 2009

Lolita

Lolita / 1962
Stanley Kubrick

não li o livro (vivamente recomendado pela v., a quem reconheço os bons gostos literários). não estava à espera de me rir tanto, e nem a sequência inicial (a das unhas dos pés) o fazia antever, muito embora o filme me tenha surpreendido e agradado logo nesta altura. cada vez gosto mais da cinemateca. nada a fazer, sou mesmo um bocadinho nerd. e ri-me tanto pela forma como estavam representadas referências à temática freudiana, pelas caricaturas psiquiátricas e pela interpretação de um poema do edgar no entendimento de uma jovem púbere e das piadas sobre a actualidade do existencialismo.

12 de maio de 2009

Rocinante

dos três segundos de divagação que me concedo após as aventuras de dom quixote de la mancha e sancho pança sobre como foi ou não foi o meu dia mais de rocinante do que de cavaleiro andante

sobre o adiamento da vida e sobre que jeito tem ela. findo o dia, pouco ou nada a acrescentar ao anterior e duvido já do seguinte. amanhã vou ao cinema!

7 de maio de 2009

Arko Datta

(porque não tenho tido tempo para escrever sobre o mundo. estava a passar pelo site do público e despertou-me a atenção a foto de um traje indiano. Arko Datta é um fotojornalista que reportou um genocídio.)

6 de maio de 2009

The Idiot

à porta da livraria shakespeare, em paris (2008)

4 de maio de 2009

Otelo

"Estamos a perder demasiado tempo a pensar e discutir sobre o conteúdo do documento, quando devíamos era preparar-nos para a revolução armada, pois o que interessa é abater o regime, e isso só se consegue à porrada."
Jorge Golias, capitão engenheiro, a 25 de Agosto de 1973

como já devo ter dito aqui, quando tenho tempo gosto de parar na montra da tabacaria da estação de metro para ver as capas dos jornais diários (é um hábito que adquiri em jeito de imitação social, mas um bom hábito). a entrevista a Otelo Saraiva de Carvalho, pelo Paulo Moura, foi o que me despertou a atenção na manhã do passado vinte e quatro de abril. raramente chego a ler as peças jornalísticas na integridade, mesmo quando me despertam a atenção, mas desta vez resolvi ir até ao fim. aqui deixo este apontamento, legitimando a pretensa agressão ao avô cantigas, pois se isso afinal só se consegue à porrada...não, a sério, a revolução armada é um tópico que me inquieta e depois fiquei a pensar se não estaremos de facto a perder demasiado tempo a discutir sobre os conteúdos dos diferentes documentos que professamos. mas eu sou uma ingénua política que gostava de um dia poder dizer "nós, a esquerda".

3 de maio de 2009

Big

o último post foi um aviso. de coffee and cigarettes, este blogue pode muito bem, a qualquer momento, passar a chamar-se sex and the city. mas ainda não foi desta, como também ainda não foi desta que fiquei sentimental. quem sabe, poderá vir a chamar-se singularidades de uma rapariga loira. de vez em quando tento ignorar esta minha faceta que tende para a intelectualidade, como se tenta suster a respiração debaixo de água, mas, do mesmo modo, fico sem ar. e mais uma vez me lembro do que fez de lisboa a minha cidade quase perfeita: depois do indie esta aí o fatal, os espectáculos de dança na culturgest, a feira do livro e os filmes da cinemateca. e o cheiro a fim de tarde na esplanada antecedendo as noites mornas. tudo isto que me dá vontade de viver.